quinta-feira, 6 de junho de 2013

Sobre O Caminho Menos Percorrido e Mais Além, de Scott Peck (V)


V. O paradoxo do bem e do mal


      «Uma vida feita exclusivamente de facilidade e conforto pode não ser tão maravilhosa como julgaríamos à partida. Só através da doença aprendemos a apreciar melhor a saúde. Através da fome aprendemos a dar valor à comida. E conhecer o mal ajuda-nos a apreciar o bem.» (p.261)


VI. Todos diferentes, todos iguais ou o paradoxo dos direitos humanos adquiridos

  «Todos somos iguais aos olhos de Deus. Para lá disso, porém, somos completamente desiguais. Temos diferentes dons e limitações, diferentes genes, diferentes linguagens e culturas, diferentes valores e estilos de pensamento, diferentes percursos pessoais, diferentes níveis de competência, e assim sucessivamente. Na verdade, a Humanidade poderia ser adequadamente designada como a espécie desigual. Aquilo que mais nos distingue de todas as outras criaturas é a nossa extraordinária diversidade e a variabilidade dos nossos comportamentos.
    A missão da sociedade não é a de estabelecer a igualdade. É, sim, a de desenvolver sistemas que lidem de forma humana com a nossa desigualdade – sistemas que, de forma razoável, celebrem e encorajem a diversidade.» (p.267)

L.C., 6 de junho de 2013

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Sobre O Caminho Menos Percorrido e Mais Além, de Scott Peck (IV)

IV. Sobre o Amor
«O amor é muitas vezes muito subtil e misterioso. Em The Road Less Traveled [O Caminho Menos Percorrido], defini o amor como a vontade de nos oferecermos pelo objectivo de cuidar do nosso crescimento espiritual, ou do de outra pessoa. Esta definição constitui um reconhecimento de que o amor é muito mais abrangente do que o romance, o casamento, ou a paternidade. (…)
Por exemplo, todos já ouvimos dizer que é melhor dar que receber. Estou convencido de que seria muito mais apropriado dizer que é tão bom dar como receber. (…) A incapacidade de receber amor é quase tão destrutiva como a incapacidade de o dar.
            Foi-nos também ensinado que «o amor é dócil, o amor é atencioso» - e no entanto, há alturas da vida em que temos de exibir aquilo a que se pode chamar amor duro. O amor é frequentemente ambíguo; por vezes requer ternura, enquanto outras vezes tem de ser severo. A realidade é que não podemos amar bem se estivermos constantemente a oferecermos aos outros sem cuidar de nós. A submissão ao amor não significa ser um capacho. Do mesmo modo que ao longo das nossas vidas temos de escolher o que é ou não a nossa responsabilidade, temos igualmente de escolher, ainda que nos tenhamos submetido ao amor, quando amar os outros e quando amarmo-nos a nós mesmos.
            Acredito piamente que a chave do amor está em trabalhar sobre si próprio. Não podemos começar a amar os outros bem até trabalharmos amorosamente sobre nós próprios.» (pp.185-186)

L.C., 6 de junho de 2013

Sobre O Caminho Menos Percorrido e Mais Além, de Scott Peck (III)


III. Sobre a Aventura da Aprendizagem e do Crescimento
 

Aprender é uma aventura

            «Mas aprender é uma aventura. Temos de aprender, até certo ponto, a ganhar-lhe o gosto, pois toda a aventura consiste em entrar pelo desconhecido adentro. Se soubermos sempre de forma exacta aonde vamos, como lá havemos de chegar, e o que veremos ou experimentaremos ao longo do caminho, não se trata de uma aventura. É intrinsecamente humano – e inteligente – ter medo do desconhecido, ficar nem que seja um bocadinho assustado quando se embarca numa nova aventura. Mas é só com as aventuras que aprendemos muita coisa importante, é só nelas que podemos ficar expostos ao novo e ao inesperado.» (p.152)

O conceito de coragem

            «Algo que nunca deixa de me espantar é a forma como relativamente poucas pessoas compreendem o que é a coragem. A maior parte pensa que é a ausência de medo. Ausência de medo não é coragem; ausência de medo é algum tipo de lesão cerebral. A coragem é a capacidade de avançar apesar do medo, ou apesar da dor. Quando o fazemos, descobrimos que ultrapassar o medo não só nos torna mais fortes como é um grande passo em direcção à maturidade.
 
(…) Estou convencido de que aquilo que mais caracteriza as pessoas imaturas é o facto de ficarem sentadas queixando-se de que a vida não corresponde às suas exigências. Pelo contrário, aquilo que caracteriza aqueles felizes poucos que são totalmente maduros é o facto de considerarem sua responsabilidade, e mesmo oportunidade – responder às exigências da vida. Na verdade, quando nos apercebemos de que tudo o que nos acontece foi concebido para nos ensinar aquilo que precisamos de saber na nossa viagem vida fora, começamos a encarar a vida de um ponto de vista completamente diferente.» (p.158)

A dor de viver

            «Como escrevi em The Road Less Traveled [O Caminho Menos Percorrido], a vida é difícil porque consiste numa série de problemas, e o processo de confrontar e resolver problemas é um processo doloroso. Os problemas, dependendo da sua natureza, evocam em nós muitos sentimentos desconfortáveis: frustração, dor, tristeza, solidão, culpa, arrependimento, cólera, medo, ansiedade, angústia ou desespero. Estes sentimentos são muitas vezes tão dolorosos como qualquer tipo de sofrimento físico. Na verdade, é por causa da dor que os eventos ou os conflitos engendram em nós, que lhes chamamos problemas. No entanto, é neste processo de confrontar e resolver problemas que a vida encontra o seu sentido. Os problemas fazem apelo à nossa coragem e à nossa sabedoria; na verdade, criam a nossa coragem e a nossa sabedoria. Os problemas são o fio da navalha que marca a diferença entre sucesso e falhanço. É só devido aos problemas que crescemos mental e espiritualmente.

 
            A alternativa – não confrontar as exigências da vida nos termos da vida – significará que acabaremos a perder, mais frequentemente do que o contrário. A maioria das pessoas tenta iludir os problemas, em vez de encará-los de frente. Tentamos libertar-nos deles, em vez de os enfrentarmos, ainda que com sofrimento. Na verdade, a tendência para evitar problemas e o sofrimento emocional que lhes está associado é a base fundamental de todas as enfermidades psicológicas. E uma vez que a maior parte de nós sofre desta tendência em maior ou menor grau, a maioria de nós não goza de uma saúde mental total. Os mais saudáveis aprendem não a recear, mas na verdade a encarar os problemas com satisfação. Muito embora o triunfo não esteja garantido de cada vez que enfrentamos um problema na vida, os mais sábios têm a noção de que só através da dor que implica confrontar e resolver problemas é que aprendemos e crescemos.» (p.179)
L.C., 5 de junho de 2013

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Sobre O Caminho Menos Percorrido e Mais Além, de Scott Peck (II)


II. Sobre o grau de Consciência e a capacidade de pensar


            «No entanto, um outro fardo doloroso que surge sempre associado a um aumento do grau de consciência e da competência é a solidão de transcender a cultura tradicional. Ao longo dos tempos, só uns quantos entre milhões – um Sócrates, um Jesus – se ergueram acima da rígida cultura e pensamento simplista do seu tempo. (…) Estes indivíduos [e outros que atingiram este patamar de fratura] pensam suficientemente bem para desafiarem o pensamento convencional e irracional. Questionam as lealdades cegas, sejam nacionais ou tribais – e as limitações que lhe são impostas pela sua cultura – com vista a crescerem. Não acreditam já em tudo o que lêem nos jornais. Buscam a verdade e desafiam as ilusões de “normalidade”, tal como são promovidas pela sociedade e os meios de comunicação social. Demonstram a coragem de não se deixarem já ser engolidos pelo pensamento simplista que os rodeia. Redefiniram “família” de modo a incluir não apenas familiares de sangue, mas igualmente os relacionamentos cheios de significado que estabelecem com outras pessoas que partilham interesses e que possuem uma abordagem comum à vida – e orientada no sentido do crescimento.
 

            Ao longo deste processo pelo qual se tornam cada vez mais conscientes, muitos experimentam uma sensação de liberdade e de libertação, ao caminharem no sentido de se tornarem verdadeiros consigo mesmos. A sua tomada de consciência vai-se enraizando no eterno, e a evolução da consciência é a essência mesma do espírito do crescimento espiritual. Mas pagam igualmente um preço, pois a sua viagem pode ser solitária. Os pensadores profundos são frequentemente mal compreendidos pelas massas que continuam a encarar a vida e o mundo de forma simplista.» (pp.104-105)
 
 
 
L.C. 3 de junho 2013