Num manhã chuvosa de agosto, em que, por momentos me deixei levar pela nostalgia do meu pensamento, acordou na minha memória este lindo poema de António Gedeão, chamado a "Pedra Filosofal" (Movimento Perpétuo, 1956).
Para muitos de nós este poema ficou eternizado pela voz de Manuel Freire.
Ouvi atentamente este poema musicado e não pude deixar de pensar que a sua mensagem é intemporal, que nos toca em todos os momentos da nossa existência: afinal a capacidade de sonhar faz parte da natureza humana.
Podemos ler/ouvir este poema e refletir sobre o significado do seu título, pois a pedra filosofal é um objeto místico descrito pelos alquimistas na Idade Média, como sendo capaz de transformar qualquer metal em ouro. No entanto, essa substância mágica nunca foi encontrada ou recriada e por isso continua presente no imaginário humano. No poema de António Gedeão, a concretização do sonho manifesta-se das mais variadas formas, que vão desde a arte, a arquitetura e a música até à ciência náutica e à astronomia. O poeta não deixa de defender que o sonho comanda a vida, que se trata de uma coisa "concreta e definida", e "que sempre que o homem sonha, /o mundo pula e avança". Tal como a pedra filosofal, da qual não se conhece a matéria que a constitui e que continua a fazer sonhar as mentes humanas, o mesmo se passa com o sonho, pois só ele permite elevar as nossas capacidades e criar sempre algo de novo que transforme o nosso pequeno mundo.
L.C.