sábado, 8 de setembro de 2012

Hoje




Hoje não encontrei as palavras certas
para ser mais um espírito leve no Universo
para ser mais uma voz na multidão
para ser mais uma atriz no Teatro da Vida.

Hoje não consegui atravessar a linha do Tempo
para ser Luz e Movimento
para ser Sol e Água
para ser Calor e Vento
para ser Eternidade e Momento.

Hoje apeteceu-me desviar do mundo,
embalar-me no sonho adormecido
de caminhar sobre as nuvens
e dissolver-me em pleno vento.

L.C., setembro 2012

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Mais um poema...

Desde o momento em que despertei para o poder da palavra que me apaixonei pela sublimidade da poesia, especialmente por aquela que se escreve em língua portuguesa. Num conjunto de versos exprimem-se a beleza, o sonho, a nostalgia, a esperança, olhares sobre as "coisas" mais simples, diversas e mundanas. Hoje cruzei-me com este poema de Manuel Alegre.
 
 

Esteva

Floriu efémera a flor da esteva
já seu esplendor é quase um fenecer.
Branca e breve a brisa a leva
e dela fica um verso por escrever.

in Manuel Alegre, Alentejo e ninguém, Lisboa, Caminho, 1996.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Pedra Filosofal

Num manhã chuvosa de agosto, em que, por momentos me deixei levar pela nostalgia do meu pensamento, acordou na minha memória este lindo poema de António Gedeão, chamado a "Pedra Filosofal" (Movimento Perpétuo, 1956).

Para muitos de nós este poema ficou eternizado pela voz de Manuel Freire.





Ouvi atentamente este poema musicado e não pude deixar de pensar que a sua mensagem é intemporal, que nos toca em todos os momentos da nossa existência: afinal a capacidade de sonhar faz parte da natureza humana.
Podemos ler/ouvir este poema e refletir sobre o significado do seu título, pois a pedra filosofal é um objeto místico descrito pelos alquimistas na Idade Média, como sendo capaz de transformar qualquer metal em ouro. No entanto, essa substância mágica nunca foi encontrada ou recriada e por isso continua presente no imaginário humano. No poema de António Gedeão, a concretização do sonho manifesta-se das mais variadas formas, que vão desde a arte, a arquitetura e a música até à ciência náutica e à astronomia. O poeta não deixa de defender que o sonho comanda a vida, que se trata de  uma coisa "concreta e definida", e "que sempre que o homem sonha, /o mundo pula e avança".  Tal como a pedra filosofal, da qual não se conhece a matéria que a constitui e que continua a fazer sonhar as mentes humanas, o mesmo se passa com o sonho, pois só ele permite elevar as nossas capacidades  e criar sempre algo de novo que transforme o nosso pequeno mundo.

L.C.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Memórias e as vantagens de ser baixa

Remexi no baú das minhas memórias e encontrei este texto que escrevi aos 17 anos, quando ainda era estudante no liceu. Não alterei nenhuma palavra, nem o revi segundo o novo acordo ortográfico, pois ele deve ficar intocado pelo tempo, como se se tratasse de uma fotografia! Durante muito tempo perguntei-me por que razão o tinha escrito e hoje acho que sei porquê...  afinal ter menos de 1,60m de altura não é grave...

As vantagens de ser baixa
            Baixinhas deste meu Portugal! Já alguém vos disse que existem vantagens em ser baixa? Talvez não. Pois eu digo-vos que se pode chegar onde as altas chegam e, às vezes, até se chega mais alto que as grandalhonas. Devem estar a pensar que, por exemplo, para chegarem a um armário, para tirar qualquer coisa são baixas! Então, minhas amigas, para que servem as cadeiras!? É claro que não podem ser top-models, mas em compensação não podem dizer que têm pernas de cegonha, ou que andam com andarilhas. São simplesmente baixas, baixinhas. E quem vos disse que as mulheres se medem aos palmos? E até há quem diga que as baixinhas são mais engraçadinhas! Então, e das altas, o que se diz? Diz-se, no minímo, que têm uma cara interessante, um corpo elegante (normalmente) mas nunca se diz que são engraçadinhas; diz-se que são grandalhonas, e que, por vezes, não cabem em todo o sítio. Por exemplo, se forem entrar pela porta de uma casa um pouco baixa, não devem chegar a entrar, ficam caídas no chão, com um galo na cabeça, isto enquanto as baixinhas entram na dita casa, na maior das tranquilidades.
            É claro que isto das alturas até é um assunto discutível: existem baixas que se consideram baixas, outras que se consideram ainda mais baixas, outras que, de tão modestas que são, se consideram menos altas, outras que até se consideram baixas, apesar de Deus lhes ter concedido o dom de serem um pouco altinhas. Mas também se pode dar o caso de se encontrar o verdadeiro equilíbrio.
            É claro que se se der o caso de alguém escorregar numa casca de banana, lá se vai o equilíbrio, dependendo do pavimento em que se escorrega, por exemplo, numa calçada íngreme ou num espaço liso: para a alta, a queda é maior, e a vítima rebola antes de se levantar, no caso da baixinha, a única coisa que a vítima pode fazer, rapidamente, antes de se levantar, é olhar à volta, para ver se alguém presenciou o incidente. No primeiro caso, nem essa possibilidade deve ter, com as tonturas que lhe dá.
            Mas deixando as cascas de banana de lado, pensemos no assunto de outra maneira. Uma mulher baixa pode ser empresária, tal como uma alta, uma mulher baixa pode conduzir um automóvel, embora possa parecer uma mosca lá dentro, a mulher alta também pode conduzir o automóvel, mas se for um mini está arriscada a não caber lá dentro.
            Pois é, minhas amigas, isto de ser baixa, afinal não é mau de todo: ser alta tem as suas vantagens e desvantagens, tal como ser baixa!
            E não se esqueçam que podem chegar onde as altas chegam, embora por vezes, com ajudas; podem passar por mais novas, coisa que as altas não podem; podem chamar-lhes nomes fofinhos, mas em compensação, não lhes podem chamar dinossaurias ou Barbies esqueléticas.
                     
              Nesta coisa de alturas, na perspicácia é que está o segredo.

 L.C., aos 17 anos (199_)

sábado, 17 de março de 2012

Conversa ocasional

Sentou-se na cadeira de madeira da sala de espera, contemplou a rusticidade do assento, ficariam muito bem junto da sua lareira, pois embora envelhecida a cadeira cumpriria em pleno a sua função. Trajava com toda a simplicidade um blusão de fibra polar, de cor verde limão, umas calças de ganga gastas pelo tempo e uns ténis.

Com toda a espontaneidade divagou sobre as suas vivências enquanto mulher cosmopolita e amante azáfama citadina. Afinal na cidade tinha-se perdido de si mesma, tinha perdido o contacto com o ritmo da Natureza, com o equilíbrio entre o tempo para trabalhar e para pausar. Essa vivência levou-a a um estado depressivo, que apenas se esvaneceu quando procurou o equilíbrio entre o espaço citadino e a quietude alentejana. Não recorda com saudade os tempos em que se regeu pelas modas e hábitos da urbe, em que trabalhou de forma frenética para alimentar uma máquina de entretenimento. E como se de uma poetisa bucólica se tratasse elogiou a vida do campo e, à semelhança dos nossos antigos, concluiu que o ser humano deve viver em harmonia com a Natureza, respeitar os seus ritmos, contemplar a sua beleza e nela semear, cuidar e colher o alimento, que tanto pode ser para o corpo como para a alma. Nas suas palavras, a Revolução Industrial foi a responsável pela criação do ambiente frenético que transformou o mundo laboral e o ser humano no operário mecânico dos Tempos Modernos de Charlie Chaplin.

Compreendi e apoiei as suas palavras, pois ao longo da minha existência tenho procurado o equilíbrio improvável entre dois espaços aparentemente antagónicos, mas que têm os seus encantos e até a sua cumplicidade. À tardinha, após um dia de trabalho e de regresso ao conforto do lar, delicio-me com o por do sol, com o silêncio do cair da noite e com a sublime mistura de tons cor de fogo, no momento em que (quase) tudo adormece. Com o romper da aurora, as minhas energias renovam-se e com elas o desejo de enfrentar os desafios que a vida nos proporciona. Mas não abdico dos sons da civilização, do trânsito, da imensidão de gente, do infindar de prédios, da diversidade de pessoas, de personalidades, de culturas, de visões do mundo, enfim, de todo o mistério que é o ser humano e de todo o Conhecimento intrínseco…

E a conversa foi interrompida, quando ouvi o meu nome.

E algum tempo depois segui o meu caminho de regresso a casa, guardando na memória as palavras certas e verdadeiras proferidas naquela conversa ocasional sobre a Cidade e o Campo, sobre o Presente e o Passado, sobre o Futuro e acima de tudo sobre a forma como, a cada dia, podemos refletir sobre o nosso admirável Mundo.




L.C. 17 de março de 2012

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Feliz 2012

Um novo ano se inicia e com ele se (re)definem novos (ou velhos) projetos. Com o novo ano renasce a nossa esperança na felicidade, no amor e na paz. Apesar da crise anunciada, não nos podemos esquecer que esta é essencialmente uma crise de valores. Cabe a cada um de nós encarar a vida com simplicidade e entusiamo, contemplar a beleza onde ela existe e abrir a nossa mente para os novos desafios que a vida nos traz diariamente.
 A todos um Feliz 2012

                          L.C.